23.7.09

in the morning

Se lhe fosse possível, Manuela arrancaria seu próprio coração fora, ainda pulsando. Da janela do quinto andar, via passar o trânsito e a vida; nada lhe pertencia.
Precisava de alguém com quem contar, alguém para dar as mãos e só chorar. Sentia-se estufada de terríveis ideias, até a tampa em fusão. Podia gritar; que fosse o mais alto possível! Mas nada lhe escapava e era como se mais conteúdo fosse sugado. Pelos seus poros, a dor e a poluição passavam, rumando para dentro. Estranha osmose de sentimentos que só funcionava de maneira imprópria.
Mesmo ali, no alto dos Quintos... lhe era o inferno. O calor, o cheiro de vilanias saturava o ar e era impossível não engasgar. Tudo estava podre, e Manuela absorvia sem consciência. Despercebida, sempre.
Quanto ao coração, realmente queria arranca-lo fora às dentadas. De que lhe adiantava o hóspede parasita, o agregado corporal que só exigia... e não dava nada em troca? Que relação era essa, que impregnara de impurezas o solo, a água e o ar? O terreno tornou-se árido, coração seco e sem possibilidade de reversão. Ou esperança; era o de se esperar, pelo menos deles.
De tudo, esperava que racha-se em dois, dez, mil. Que fosse levada para longe.

13.7.09

libertina liberdade!

e ah! eis que veio a folga, as férias. viva a libertinagem!

Era hora de soltar os cabelos, andar no sol de inverno com óculos escuros e procurar a tranquilidade, mesmo a tendo tão restrita e diminuída. Era época de deitar na grama, com flores no cabelo ouvindo Hendrix. E que viessem os rifes pesados.

agora nada me segura por duas semanas.

4.7.09

vixen

And if I could swim reaching for the beach, I would still feel my bones aching.

A falta que me faz é tamanha. Aperta e me sufoca e agora eu não posso parar. Deve ser o final que se aproxima, e cada vez mais o buraco se fecha e a superfície congela. E mesmo querendo chegar ao topo, parece que o fundo me espreme, me diminui e tira a minha vontade.

É assim mais ou menos que é a minha agonia, que se instalou hoje como posseira e irá passar a noite. Como eu gosto de fazer feder o lixo jogado fora, como gosto de cutucar a carniça e fazer voar todas as moscas e larvas. Como me agrada cutucar a ferida, fazê-la sangrar e depois cuidar.
Não há saúde, não há salvação para uma coisa dessas, só eu mesma posso me resgatar. Mas agora, nesses dias, para que meu Deus! Se ninguém me ama, se ninguém me quer... justo agora que estou tão clichê e desajustada. Tenho vergonha de mim mesma na frente do espelho, como uma figura morta que não representa nada, nada para ninguém.

É de meu agrado depreciar minha imagem, de me esconder na caverna para que ninguém me veja. Adoro que sintam pena de mim, por que só esse sentimento me é digno. Faz bem ao me ego ouvir o contrário, mesmo tão irracional que a ação dominó seja. Quero me entender mas nada é possível, não gosto de rótulos, de definições. Se pudesse vir com manual queimaria, veja minhas contradições!

Estou o caos, de novo e de novo! Tudo em mim quebra, despedaça e não há o que cole! E nada me salva. Me salva! Me desafoga, me tira daqui. Esse é o meu desespero e tudo mais que pulula dentro de mim. Que tudo saia em jorro, como regurgito. Para fora e para longe. Não consigo ser eu mesma hoje, vou me rasgar por dentro. Me entenda, acho que te amo. Isso me mata, acaba com o que resta. Nem mais pó é.

Eu quero gritar, amassar alguma coisa! É descrença, é choro. Nojo da humanidade e de mim. Vontade de liberar toda essa massa ruim, que me corre pelas veias e chega aos dedos. Massacro as teclas e nada, nada! Quero sair na rua, bater em alguém. Quero sentir o frio me cortando à pela, o suor me esfriando, o frio de alma. Para que tudo então se aquiete.


E então virá a calmaria, a bonança. E as lagrimas virão de felicidade. Que venham os ventos.