15.3.10

Começo Um - ou Sem Fim Um

Dedilhava as folhas do livro como as cordas do violão - aquele, que pegava poeira no canto da salinha - e perguntava-se sobre a vida, os cosmos e o jantar daquela noite.
Carla deveria ter seus 20 anos. Letrada em São Paulo, papai chamou-a de volta à Matriz para ver sua mãe doente. A doença passou, sua mãe também, e assim por lá ficou. Da janela empoeirada admirava a imensidão do escuro; como é bonito o firmamento! Mamãe há de estar por lá.
Lia um romance qualquer, daqueles em que a inspiração do autor vem depois da obra pronta. Agua com açúcar, sendo-ou-não, era o que interessava Carla. Domínio do tédio, vitória do ócio, descansava a cabeça no canto da poltrona.

Toc, toc. Pedra sob pedra, pedra sobre vidro e então sobre o mogno do chão. Duas pedrinhas, como que dois olhos, entraram pela janela e pousaram perto dos pés da leitora. Amarrado a elas, um cacho de cabelo e um retrato. Era o destino, trabalhando por ela.

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