19.3.09

Ventura narrativa.

Maria da Penha fazia tudo igual, todo dia.

Acordava cedo, prendia seus fios abrasileirados em um coque e dava rumo à vida. Com passos de elefante, usava dos poucos recursos que tinha para chegar em tempo do serviço. São Paulo não parava, e nem Maria da Penha podia parar.

Oito horas, ali na Paulista com a Brigadeiro, passava em passo rápido pela ventilação do metrô: a saia subia meio como a da artista do vestido branco... não causou a mesma comoção. E lá se foi.

Machadinho a esperava. Do lado de fora, apoiava no poste enquanto tragava seu vício matinal. O café na outra mão, já frio pela espera, era garantia de azia mais para a hora do almoço. Era culpa da Maria da Penha, sempre.

Cinco minutos depois, com os cabelos soltos, surgia a atrasada. Não conseguia ficar emburrado, a malemolência da Penha era hipnotizante para Machado. Com o sorriso feito no rosto, só podia mesmo dar um gole do café, que se danasse a azia.

Por debaixo dos óculos escuros, Maria da Penha sabe bem o que faz. Com ar de despreocupada, sabe que nada vai atingi-la, não hoje.

e era sempre assim.

Um comentário:

Fernanda B. disse...

Preâmbulo!
Preâmbulo da 10.826. Todos a favor levantem as mãos? \0/